As duas primas, Carla e Ana

Primas de Estarreja “picam” herança do mel aromatizado

Carla Pereira e Ana Pais. Duas primas que retomaram as experiências de aromatização com plantas do avô Augusto, apicultor nas horas livres, depois de ficarem sem emprego. A subida do preço da matéria-prima é a maior ameaça.

Duas primas, Carla Pereira, 31 anos, e Ana Pais, 34 anos, fundaram a Beesweet no Verão de 2015, depois de testarem e amadurecerem a ideia de negócio em vários concursos de empreendedorismo.

Desde pequeninas, Ana Pais e Carla Pereira “sempre [viveram] muito esta coisa das abelhas e do mel” com o avô Augusto, apicultor nas horas vagas que fazia umas experiências com plantas aromáticas, depois oferecidas a amigos e vendidas na lojinha da avó Hermínia. As primas, nascidas e criadas em Pardilhó, no concelho de Estarreja, só começaram a deixar de pensar naquilo como “a coisa mais natural do mundo” quando, quase ao mesmo tempo naquele tempo de entrada da troika no país, ficaram desempregadas.

primas de Estarreja mel

Como surgiu a Beesweet?

A ex-recepcionista de um hotel algarvio e a prima, três anos mais nova, que perdera o ofício de técnica de qualidade numa empresa ligada ao automóvel, começaram a rondar a ideia de negócio da Beesweet durante as longas caminhadas em conjunto. E picaram-na em definitivo quando o pai da actual CEO, regressado da Alemanha, resolveu mexer na garagem onde estavam esquecidas as antigas ferramentas, uma centrifugadora cheia de ferrugem, algumas colmeias, as máscaras e um fato de apicultura que pertenciam ao avô. “Aquilo começou a mexer connosco”, recua Ana Pais.

Macau e Suíça são os melhores destinos externos para a Beesweet, que esteve para ser um apiário pedagógico.

O grande começo

Começava aí a aventura empresarial que começou vitoriosa em concursos de empreendedorismo, onde testaram a ideia, os preços, a imagem ou a forma de chegar ao mercado. O que só viria a acontecer em Agosto de 2015 com um mel natural, 100% português, aromatizado com ervas frescas, que actualmente conta com uma linha de seis sabores – além de outros produtos que foram adicionando ao portefólio,
como o chocolate negro belga com recheio de mel aromatizado.
Gota - Embalagem criada pela ESAD num concurso lançado pelas duas primas
A ideia embrionária até era a de construírem um apiário pedagógico, aberto ao público. Porém, logo perceberam que era algo inviável pelos custos iniciais enormes, que incluam terrenos, maquinaria e instalações próprias. O projecto inicial “não está completamente de parte”, mas assumem que, por agora, têm de se focar no produto, que posicionaram num segmento “premium”, e em colocá-lo no mercado. “Foi tudo com muito sacrifício. Não temos familiares ricos nem nada disso. Começámos tudo do zero. Comprámos 50 frascos, vendemo-los e ganhámos dinheiro para comprar os cem seguintes. Agora já os compramos às paletes e o mel à tonelada”, sustenta a gestora nortenha.
Fornecedores
Um apicultor da região de Oliveira de Azeméis e duas cooperativas, em Vila Real e Castelo Branco, fornecem o mel à Beesweet.

Exportação

No ano passado, o primeiro completo no mercado, a jovem empresa facturou um em cada cinco euros no estrangeiro.

Com sede em Oliveira de Azeméis, a loja destas duas primas,  tem produtos disponíveis em lojas “gourmet” de Norte a Sul do país e também no estrangeiro. Estão presentes em localizações como França, Suíça, Luxemburgo, Holanda e Macau, além de venderem em várias plataformas online. No ano passado, as exportações representaram 20% do volume de negócios, que ultrapassou os 30 mil euros.

O fornecimento do mel, comprado directamente a duas cooperativas e a um apicultor da região, é, desde o início, um dos segredos do negócio. E agora também “a maior ameaça” devido à “subida exagerada dos preços” da matéria-prima, que é uma tendência global. É que, em vez dos habituais quatro euros por quilo, as propostas recebidas começam a ascender agora aos seis euros.

“Chefs, mas muitos” e bem posicionados

A Beesweet colocou-se no mercado “premium” com um produto que se quer diferenciar da concorrência e que está a ser estudado.

Clientes “gourmet” e da restauração

 O público-alvo é de classe alta e média-alta. “Alguém que vai a uma mercearia gourmet comprar um produto específico para dar a conhecer a amigos”, exemplificou.
 A empresa criou também uma embalagem específica para os clientes da restauração e fez parcerias com vários chefs, como a Filipa Gomes do “24Kitchen”.

Oportunidades na cozinha e na farmácia

 A incorporação de mel em pratos gastronómicos continua a ser uma das maiores oportunidades.
 O valor medicinal do mel, com o “valor acrescentado” das plantas, está a ser estudado em laboratório com a Universidade de Aveiro, para entrarem nas para-farmácias.

Concorrentes no país e nas bisnagas

 Aquae Flaviae e Casa da Prisca estão na lista da concorrência, com a diferença de lá deixarem as coisas que metem no mel.
 A “maior concorrente”, eleita por Ana Pais, é a Meia Dúzia. Esta faz compotas em bisnaga e lançou um mel aromatizado já depois de a Beesweet entrar no mercado.

Perguntas a Ana Pais, uma das primas e CEO da Beesweet

Americanos adoram produtos orgânicos

A Beesweet quer atacar um nicho nos EUA e não se assusta com a dimensão. Afinal, já exporta para a China.

Como se vão posicionar para vender nos EUA?

Queremos um representante ou importador que ajude a alavancar o produto num mercado que lhe irá dar valor. Eles adoram produtos orgânicos, naturais. Mas sempre em nicho de mercado, no valor acrescentado, não em quantidade. É óbvio que temos de crescer, optimizar a produção, mas é impossível estar no mundo todo se não for com este conceito.

Capacidade de produção? Todo o ciclo de negócio está criado.
A questão não é a falta de produto. Vendemos mel em frascos de 40 gr.
primas de Estarreja mel

Mas um nicho ali é gigante.
Já exportamos para a China e isso não nos está a parar, a limitar ou a fazer perder prazos na entrega. Que venha a oportunidade de trabalhar com os EUA. Capacidade de produção? Todo o ciclo de negócio está criado. A questão não é a falta de produto. Vendemos mel em frasquinhos de 40gr, não ao kg. E temos uma força de vontade muito grande para trabalhar.

E que barreiras antecipam?

Logo à partida, as rotulagens. Por exemplo, uma coisa muito simples: temos isto em gramas e vamos ter de colocar em oz. Temos de estudar tudo. Já abordei países em que simplesmente é impossível comercializar lá porque legalmente só podem consumir mel daquela zona. Nos EUA não, mas no que toca a produtos orgânicos tem legislações restritivas.

 

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